Há algum tempo atrás, estava a conversar com um grande amigo meu sobre um assunto não muito agradável e, num determinado ponto da conversa surgiu uma questão sobre a qual nenhum de nós tinha ainda cogitado muito (aliás, nem muito nem pouco porque é, pura e simplesmente, daquelas coisas que "não lembram ao Diabo"!).
Em traços muito gerais, estávamos a debater níveis de confiança que amigos e convidados podem ter quando se encontram na casa de outrem e como se podem medir esses mesmos níveis de uma forma mais ou menos fiável.
Chegamos a uma conclusão interessantíssima! Mas, antes de mais, vou enunciar, muito rapidamente, as premissas em que baseamos a nossa breve análise:
1. Os indivíduos estranhos ao ambiente considerado têm de ter um grau mínimo de conhecimento dos donos desse mesmo ambiente;
2. Foram consideradas pessoas de ambos os sexos, dos mais variados quadrantes sociais e dos mais diversos credos religiosos (não fossem acusar-nos de descriminação);
3. Foram tomadas em linha de conta as mais diversas situações sociais onde a inclusão dos indivíduos nos ambientes em causa pudesse acontecer (visita casual, festas de várias índoles, etc.)
Basicamente, a conclusão a que chegamos foi esta:
- Podemos considerar que alguém tem confiança (muita confiança mesmo!!) connosco ou com os nossos familiares quando, pasme-se, abre o nosso frigorífico sem pedir permissão da primeira vez que o abre!!
Senão vejamos: consideremos o vosso frigorífico lá de casa como a vossa "reserva pessoal de alimentos".
Nas sociedades primitivas, as reservas de alimentos eram muito bem guardadas porque poderiam significar a sobrevivência, ou não, das comunidades ( fossem elas mais, ou menos, organizadas).
Mais ainda, eram ainda distribuídas com alguma parcimónia para que todos os membros pudessem beneficiar desses produtos essenciais. Ora, a um nível do nosso subconsciente mais primário poderemos considerar que um agregado, familiar ou não, ainda olha para o frigorífico da mesma forma. Logo, se alguém tem confiança suficiente para se socorrer da nossa reserva de alimentos, poderemos considerá-lo como um membro desse mesmo agregado e, por conseguinte, alguém com quem temos bastante confiança.
Perante tão interessantes conclusões, decidimos ir um pouco mais além e elaboramos uma espécie de análise comportamental que define uma gradação para os diferentes níveis de confiança que alguém pode apresentar:
1ºNível - O indivíduo pergunta-nos algo do género "tens água fresca?". Mesmo que esteja interessado em beber sumo.
2ºNível - O indivíduo pergunta-nos "tens algo fresco que se beba?" Aqui já dá a entender que pode não estar apenas à procura de H2O...
3ºNível - Marcado por questões como "mano, posso ver se tens alguma coisa que se beba fresca?". O indivíduo remete, implicitamente, para a vontade que tem de vasculhar o nosso frigorífico, sem a nossa ajuda.
4ºNível - O indivíduo não nos pergunta nada, apenas endereçando um aviso indirecto de que pretende aceder ao nosso frigorífico utilizando expressões como "Ora vamos lá ver o que é que tens aqui..."
5ºNível - Nível máximo de confiança. O indivíduo apenas se dirige ao frigorífico e retira o que necessita. Geralmente não comunica com os donos do frigorífico e se o faz recorre a expressões que deixam aqueles sem grande margem de manobra como, por exemplo, "Mano, tirei-te um sumo do frigorífico. É na boa não é?"
Por isso, se querem testar os vossos amigos, levem-nos para o pé do vosso frigorífico e deixem a natureza humana fazer o resto.